Certo de não ser esta uma concertação unânime, estou porém convencido de que há uma significativa parte da população, na qual me incluo, que crê que o cenário político em Portugal está por demais viciado pelos principais partidos políticos, bem como pela falta de um poder que seja livre da sua influência. Este vício é tão mais preocupante quanto extensível ao “quarto poder”.
Mais, estou certo de que não só este grupo de “desconfiados” se estende por todo o espectro politico e ideológico, como ultrapassa ainda os parcos resultados eleitorais que obtiveram os chamados “pequenos partidos” nas últimas eleições (como, alias, tem sido norma desde 1974).
É uma evidente constatação, o desiquilíbrio no tratamento dado pelos media aos diferentes partidos e, se em parte esse desiquilíbrio é justificado por uma questão de tradição, por outro não lhe é alheio o elemento acima referido, i.e., a dependência dos grandes meios de comunicação aos interesses partidários.
Independentemente das razões, o facto em si é (tem de ser!) inaceitável em democracia. A submissão a 2 ou 3 partidos “de sempre”, tanto mais nestes moldes de tal maneira viciados, é no mínimo tão reprovável como a imposição da vontade de um qualquer ditadorzeco, com a agravante de haver, nesta situação, mais gente para roubar mais, pelo menos em potência. É a cleptocracia elevada à potência.
Qual é a lógica “democrática” de haver dois partidos politicos, igualmente legítimos aos olhos da lei, a partirem para um exercício eleitoral condicionados à partida por um mediatismo desigual, com menos espaço para debater idéias e propostas?
A resposta de que o número de filiados , os votos passados, ou a história do partido justificam a desigual atenção não convence, que mais não seja por provocar um efeito “bola de neve”, que tenderá naturalmente ao aumento da própria desigualdade de oportunidades, e a contribuir assim o efeito para a justificação da própria causa, numa lógica falaciosa.
Se é dever dos media, em período eleitoral, divulgar os diversos projectos e programas apresentados pelos partidos que se propõem à AR, como se explica que a vasta maioria dos Portugueses parta para a mesa de voto com conhecimento quase nulo dos diferentes programas, não obstante a dose industrial de “informação” impingida pelas televisões, rádios e imprensa? A resposta é outra evidência: a esmagadora maioria do tempo real de antena é esbanjado com questões sem interesse, curiosidades irrelevantes, desaguisados, peixeiradas e acertos de conta pessoais. E no fim, pasme-se, são os palhaços destes circos quem são recompensados em votos.
É, portanto, óbvio que interesse aos palhaços o circo, e que assim continuem a promovê-lo tanto em “performances” cada vez mais audazes, como pela divulgação do “espectáculo” através dos canais próprios a que têm acesso privilegiado. É que assim tudo continua igual.
Impõe-se, a meu ver, como prioridade a movimentação dos “pequenos partidos” junto à CNE, de forma a que se esclareça os regulamentos das campanhas eleitorais e respectiva constitucionalidade, para que os necessários ajustes sejam feitos e se criem as condições adequadas para eleições realmente justas, equilibradas e isentas.
Agora, repito, porque a três meses das eleições será demasiado tarde.
À atenção óbvia de PCTP-MRPP, PAN, MPT, MEP, PNR, PTP, PPM, PND, PPV, POUS, PDA, PH.